Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista

Os terramotos são
fenómenos imprevisíveis, senão
mesmo impossíveis de prever, tal como se
fazem as previsões meteorológicas, pese as avançadas investigações sobre
sismologia. Poucos dias antes de ocorrerem, podem manifestar-se no
comportamento de aves, animais e até serem pressentidos por certas pessoas, por
algumas sensibilidades – E há estudos
que falam de tais observações. Mas o adivinhar não está ao alcance dos vulgares
mortais e, por isso mesmo, tais fenómenos continuam a provocar justificado
receio e temor - Mormente nas zonas
abrangidas pelas chamadas fraturas tectónicas – E, como é do conhecimento
geral, Lisboa está situada numa dessas zonas criticas.
A violenta tempestade que assolou o Tejo e a
capital, no dia 13 de Setembro de 1572, poderá vir a repetir-se com idêntica
intensidade e provocar estragos incalculáveis. Os especialistas advertem que o
fenómeno climático El Nino, no próximo
ano, poderá provocar graves danos nas
áreas costeiras – Frisando que será “o
terceiro fenômeno global de descoloração ou branqueamento da história, e zonas
como a Grande Barreira de Corais da Austrália serão duramente afetadas.. Cientistas advertem sobre danos que El Niño pode causar
a ...

Se se consultar a Internet, parece não se
encontrar nenhuma referência ao violento temporal, que assolou Lisboa, com
tremendos estragos navais, no Reinado de D. Sebastião, vinte anos depois do
grande sismo de 1531 e dois séculos antes do terramoto de 1775 – Pelos vistos, para não se espalhar a noticia de que Portugal ficava sem aramada ou então terá sido o desastre de Alkibir, mas, sobretudo, aquele trágico terramoto, que acabaria por ofuscar o dito vendaval: razão pela qual tem
passado despercebido, até nas próprias narrativas históricas. Todavia, não o
foi numa das páginas do “Novo Almanack De Lembranças Luso Brasileiro, de 1892 , de que sou possuidor –
Eis o que é descrito:

“Um temporal em Lisboa - Estava no porto
de Lisboa, pronta para sair, uma armada composta por 30 navios artilhados e
guarnecidos, que o nosso rei D.
Sebastião, havia arranjado, com grande sacrifício, a convite de Pio V, para entrar numa liga
contra os turcos. Pois no sábado, 13 de Setembro de 1572, ao dar a meia-noite, começou a soprar o vento
sul com tal violência, que as ondas em
rolos subiram acima dos edifícios , fazendo voar os telhados de muitas casas, e
arrancando árvores, de que resultaram muitas desgraças. Dos 30 navios da esquadra que estavam no Tejo nenhum escapou.
Quebradas as amarras, começaram a chocar uns contra os outros, despedaçando-se
, indo os seus fragmentos espalhar-se pelas praias do Corpo Santo, Caes da Rainha,
Caes da Pedra
e Alfândega. Foi uma noite de luto, e quando pela manhã raiava o dia é que se fez ideia dos destroços
Diz-se ainda que “o combate durou somente
três horas. Foram destruídas ou capturadas cento e noventa galés turcas,
enquanto os cristãos perderam apenas doze navios. Lepanto foi o fim da ameaça
marítima turca para a Europa.” – E, segundo se diz, tal retumbante revés sobre
os turcos, ter-se-ia ficado a dever às orações do próprio Pio V, que teriam
provocado o avistamento de Nª Srª do
rosário, pelo menos foi este o nome pelo qual passou a ser conhecida a aparição
que alguns soldados tiveram durante a
refrega e que teria assustado os “infiéis”. Pois é dito que, no maior fragor da batalha, os soldados de
Mafona tinham avistado acima dos mais altos mastros da esquadra católica, uma
Senhora que os aterrava com seu aspecto majestoso e ameaçado”
Noutro estudo, ainda mais aprofundado, diz-se que “As
perdas dos infiéis tinham sido enormes: 30 a 40 mil mortos, 8 ou 10 mil
prisioneiros (entre os quais dois filhos de Ali-Pachá e quarenta outros membros
das famílias principais do império), 120 galeras apresadas e cinqüenta postas a
pique ou incendiadas, numerosas bandeiras e grande parte da artilharia em poder
dos vencedores. Doze mil cristãos escravizados alcançaram a liberdade. A Liga
perdeu doze galeras e teve menos de 8 mil mortos. – Excerto de Salvem a Liturgia!: Batalha de Lepanto: a origem da
festa
Há quem diga, que, Lisboa, antes da
nacionalidade, já havia sido abalada por outros violentos sismos – Mas dos que mais se fala é dos que ocorreram
em 1531 e em 1775.
“Acredita-se que a causa foi uma falha
geológica na região do baixo Tejo,[ e foi
precedido por um par de choques em 2 de janeiro e 7 de janeiro. Os danos
causados, especialmente na parte baixa foram severos, aproximadamente um terço
das edificações da cidade foram destruídas e mil vidas se perderam no choque
inicial O Paço da Ribeira e a Igreja de São de Deus foram ambos completamente destruídos

O Sismo de 1755
tendo apagado da memória o Sismo de Lisboa de 1531, não deixa de merecer
que Joaquim José Moreira de Mendonça compare ambos na sua História
Universal dos Terramotos (1758)[ :
Excerto do poema de Voltaire sobre o desastre de Lisboa
Lisboa foi palco de
pelo menos três trágicos acontecimentos, de fenómenos naturais – uma enormíssima tempestade em 1572 e dois fortes abalos sísmicos, em 1532 e 1775 - , que, além da tragédia
provocada, em termos de vitimas e danos materiais, haveriam de ter uma profunda repercussão
na história da cidade e do país.
“O terramoto de 1 de Novembro de 1775
provocou uma profunda alteração na consciência europeia, quer no plano cientifico
relativo à Natureza, quer no plano ético, teológico e filosófico, no tocante à
origem e à natureza do Mal e do sofrimento” – escreve Vasco Graça Moura, em
nota prévia, com que antecede os versos de Voltaire, sobre “o desastre de
Lisboa” – Referindo que “toda a consciência europeia vibrou e especulou sobre a
terrível desgraça, recorrendo aos mais
variados instrumentos, da poesia à ficção, do ensaio e do comentário religioso
ou laico à descrição de índole mais ou menos jornalística e à tentativa de
explicação filosófica ou científica."
A REPETIREM-SE OS
FENÓMENOS: SERÁ PRIMEIRO O DO TEMPORAL OU O SISMO?




A BATALHA FOI VENCIDA - DIZ-SE, GRAÇAS À SRª DO ROSÁRIO – MAS SEM A
PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA – NEM UMA LINHA.
Na descrição do citado Almanack, de 1892, deve
haver algum lapso na data – pois deve
ter sido em Setembro de 1571 e não em Setembro de 1572, ou seja, altura em que, realmente, o Papa Pio V reuniu uma esquadra de
duzentas e oito galés e seis galeaças (enormes navios a remos com quarenta e
quatro canhões), das marinhas da República de Veneza, Reino de Espanha,
Cavaleiros de Malta e dos Estados Papais, sob o comando de João da Áustria, formando
a então chamada Liga Santa.
Esta frota enfrentou duzentas e trinta galés turcas ao
largo de Lepanto, na Grécia, a 7 de Outubro de 1571 – Sendo Portugal, um país
com uma tão famosa história naval, a sua ausência só se explica, devido ao trágico
atrás descrito.


LISBOA – A CAPITAL MARCADA POR DOIS VIOLENTOS ABALOS - INEVITÁVEL QUE A OCORRÊNCIA DE UM PRÓXIMO VENHA ABALAR A SUA VIDA E TRANQUILIDADE.
Referem estudos que O sismo de Lisboa
de 1531 foi um violento terramoto que
atingiu a zona de Lisboa em 26 de
Janeiro de 1531, do qual resultaram aproximadamente 30,000 mortes.



Nem obsta dizer-se vulgarmente que
o Terramoto presente foi maior que o de 1531, por se verem arruinadas a Torre
da Basílica de Santa Maria, e muitas igrejas, que naquele não caíram. A isto
respondo que também neste ainda ficou sem ruína a outra Torre da mesma antiga Sé;
e que as igrejas que caíram agora naquele tempo eram muito novas e ressentiram
da mesma forma que ao presente sucedeu às duas Igrejas de S. Bento, à de Nossa
Senhora das Necessidades, à do Menino Deus, à dos Paulistas e outras, com
alguns palácios, e casas novas, que não padeceram ruína considerável.” - Excerto de Sismo de Lisboa de 1531 –
Excerto do poema de Voltaire sobre o desastre de Lisboa
"O poema de Voltaire sobre o desastre
de Lisboa
Ó míseros mortais! Ó terra deplorável!
De todos os mortais monturo inextricável!
Eterno sustentar de inútil dor também!
Filósofos que em vão gritais: "Tudo está
bem";
Vinde pois, contemplai ruínas desoladas,
restos, farrapos só, cinzas desventuradas,
os meninos e as mães, os seus corpos em pilhas,
membros ao deus-dará no mármore em estilhas,
desgraçados cem mil que a terra já devora,
em sangue, a espedaçar-se, e a palpitar embora,
que soterrados são, nenhum socorro atinam
e em horrível tormento os tristes dias finam!
Aos gritos mudos já das vozes expirando,
à cena de pavor das cinzas fumegando,
direis: "Efeito tal de eternas leis se colha
que de um Deus livre e bom carecem de uma
escolha?"
Direis do amontoar que as vítimas oprime:
"Deus vingou-se e a morte os faz pagar seu
crime?"
As crianças que crime ou falta terão, qual?,
esmagadas sangrando em seio maternal?
Lisboa, que se foi, pois mais vícios a afogam
que a Londres ou Paris, que nas delícias vogam?
Lisboa é destruída e dança-se em Paris.
Tranquilos a assistir, espíritos viris,
vendo a vossos irmãos as vidas naufragadas,
vós procurais em paz as causas às trovoadas:
Mas se à sorte adversa os golpes aparais,
mais humanos então, vós como nós chorais.
Crede-me, quando a terra entreabre abismo ingente,
ais legítimos dou, lamento-me inocente.
Tendo a todo redor voltas cruéis da sorte,
e malvado furor, e armadilhada a morte,
dos elementos só sofrendo as investidas,
deixai, se estas conosco, as queixas ser ouvidas."
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